El Platón de Strauss y la politicidad de la filosofía
Agustín Volco (Universidade de Buenos Aires – Argentina)
En el capítulo consagrado al origen de la idea de Derecho Natural de Derecho Natural e Historia, Leo Strauss comienza con una secuencia precisa que nos presenta en su forma más sistemática su visión de lo que podemos llamar la “invención” de la filosofía. En esta ponencia me propongo reconstruir esta secuencia brevemente para interrogar los argumentos filosóficos que, para Strauss, hacen de la filosofía, y más específicamente, de la filosofía tal como fue concebida en la antigua Grecia, y más específicamente, de la noción platónica de filosofía, el centro de referencia fundamental de toda su obra.
Este trabajo conducirá, en las conclusiones, a algunas reflexiones acerca de la politicidad de la filosofía, y su importancia para la disciplina y la práctica de la filosofía política tal como es concebida por Strauss.
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Filosofia política e arte de escrever em Leo Strauss
António Bento (Universidade da Beira Interior – Portugal)
Em What is Political Philosophy? (1959), Leo Strauss afirma que os filósofos políticos do passado que escreveram sob condições de perseguição e censura distinguiram quase sempre, nas suas obras, entre um verdadeiro ensino, o ensino esotérico, e um ensino socialmente útil, o ensino exotérico. Segundo Strauss, enquanto o ensino exotérico pretendia ser facilmente acessível a qualquer leitor, o ensino esotérico revelar-se-ia apenas aos leitores cuidadosos e bem treinados depois de um estudo longo e concentrado. Não é por isso um acaso que Leo Strauss quase nunca se refira ao «pensamento», às «ideias» ou à «filosofia» política de um determinado autor. Ao invés, a palavra «ensino» (teaching) é na sua obra uma palavra frequente, é mesmo a palavra fundamental no discurso da filosofia política tal como Strauss a entende e a pratica.
Do ponto de vista de Leo Strauss, a distinção entre estes dois ensinos e a consequente discriminação dos públicos a quem eles se dirigem adequa-se à própria circunstância do pensamento, uma vez que ela reproduz a divisão essencial – divisão fundamentalmente filosófica – entre a verdade racional e a opinião comum. Com efeito, para Strauss a filosofia ou a ciência foram – e continuam a ser – um privilégio de uma pequena minoria, constituindo, aliás, a radical descontinuidade entre a verdade racional e a opinião comum um pressuposto central do pensamento filosófico ou científico. Para além disso, a mera existência de uma tal distinção entre estes dois tipos de ensino é o sinal claro de uma ruptura entre a filosofia e a cidade e mostra também o lugar reservado ao filósofo por uma cidade na qual a filosofia perdeu os direitos de cidadania.
A presente comunicação interpelará a polêmica relação entre a Filosofia Política e a «arte de escrever entre as linhas» tal como esta foi pensada e praticada pelo autor de Persecution and the art of Writing (1952).
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Leo Strauss fenomenólogo?
Elvis Mendes (UFU – CAPES – Brasil)
Em 1922, Leo Strauss frequentou os cursos de Edmund Husserl sobre teoria do conhecimento, ministrados na Universidade de Freiburg, acontecimento decisivo para que o jovem Strauss abandonasse o neokantianismo, predominante no ambiente intelectual desse período na Alemanha. Também em Freiburg, Strauss participou, com entusiasmo, dos seminários de Martin Heidegger, então assistente do professor Husserl. Naquela ocasião, as lições de Heidegger sobre a Metafísica de Aristóteles deixaram Strauss realmente fascinado. Embora naquele momento a fenomenologia não tenha se tornado o principal tema de seus estudos, é possível perceber que sua influência orientou Strauss na sua maneira de pensar a filosofia política. Diante disso, o impacto da primeira escola da fenomenologia alemã sobre o pensamento de Leo Strauss é o tema central de minha conferência. Por meio da análise da obra de Strauss, sobretudo, das cartas e de alguns ensaios de maturidade, pretendo mostrar que há em sua abordagem a influência direta da fenomenologia de Edmund Husserl, além de uma relação controversa com o pensamento de Heidegger, aspectos que se desconsiderados, corre-se o risco de cometer profundos equívocos interpretativos. A minha hipótese é a de que Strauss exerce uma crítica radical ao que nos convencionamos a chamar de teoria política, ao propor o que compreendo como uma “fenomenologia do político”, enquanto alternativa aos paradigmas metodológicos da ciência social contemporânea. Diante disso, a proposta de uma fenomenologia do político surge da constatação de que “o político” é um tipo de eidos específico, que só pode ser entendido como um fenômeno que escapa totalmente a qualquer teorização. A hipótese de que a crítica de Strauss acontece através de uma inspiração fenomenológica no sentido dado por Husserl, é possível pela observação de que seu insight fundamental sobre a necessidade da experiência do “mundo da vida” (Lebenswelt) também aparece em vários textos de Strauss. Em cartas, ele mesmo afirma estar de acordo com a proposta de Husserl, de “retorno às coisas mesmas” (zu den Sachen selbst), enquanto ferramenta para recuperar um tipo de ciência política que seja realmente capaz de uma investigação com base nas coisas políticas como elas são. Além disso, o chamado de Husserl para a fundamentação de uma “filosofia como ciência rigorosa”, parece ter um impacto decisivo na reflexão de Strauss. De fato, ele parece ter visto na crítica de Husserl às ciências naturais um caminho para reavivar a ciência política no sentido de Platão e Aristóteles, isto é, como um tipo de investigação (Zetesis) da totalidade das coisas, comprometida com a compreensão dos “problemas permanentes” que assolam o humano como humano em qualquer tempo e lugar. Com isso, busco concluir que o “retorno” de Strauss à filosofia política antiga é permeado pela necessidade de uma filosofia política fenomenológica, visto que a filosofia política clássica não pode mais se realizar na contemporaneidade, a fenomenologia oferece uma alternativa para o seu reavivamento.
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Leo Strauss, o Niilismo Alemão e o Nacional-Socialismo.
Helton Adverse (UFMG – Brasil)
Não são muitos os textos de Leo Strauss em que ele se detém sobre os acontecimentos presentes. Via de regra, suas referências à atualidade política contentam-se com a alusão ou se limitam à obliquidade. Mas alguns anos depois de sua chegada aos Estados Unidos, Strauss proferiu na New School for Social Research, em 1941, uma conferência sobre o niilismo alemão, na qual qualificava o nazismo como sua forma “mais célebre, mais vil, mais horrível, mais limitada, mais desprovida de luz e mais vergonhosa”. Esse excesso de adjetivos parece indicar uma clara condenação política, fundamentada em esforço analítico cujo objetivo é encontrar o “motivo último”, descortinar a “situação que lhe deu origem” e explicitar a natureza do niilismo alemão. Para nós, o mais importante é destacar que Strauss ensaia nessa conferência a ativação do juízo político, que deve corresponder, como ele dirá mais tarde, à restauração da filosofia política, com a diferença de que a via seguida em 1941 não será aquela preconizada posteriormente porque não é feita a retomada da tradição filosófica e sim uma breve história cultural do niilismo na Alemanha. Mais ainda, a história do niilismo consiste em um meio para Strauss desferir críticas contundentes à sociedade liberal, incapaz de oferecer uma verdadeira alternativa à atração exercida pelo totalitarismo sobre os mais jovens, mas também uma crítica ao antiliberalismo, representado por Schmitt, Heidegger e Jünger. O que pretendemos fazer em nossa comunicação é mostrar que as propostas avançadas por Strauss não configuram uma tentativa de interpretação do sistema totalitário, mas, por meio dessa crítica ao liberalismo e ao antiliberalismo, trazer à luz um dos aspectos mais contundentes da modernidade, a saber, o niilismo e suas nefastas consequências políticas. Nesse sentido, a conferência de 1941 assume simultaneamente uma relevância biográfica – na medida em que o próprio Strauss confessa-se capturado pelo niilismo nos anos de sua juventude – e teórica, pois Strauss irá reter o tema do niilismo em sua obra madura, em especial, em Direito Natural e História.
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Leo Strauss, Maquiavelo y el arte de escribir
Isabel Rollandi (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Según Leo Strauss el “arte de escribir” de la filosofía política clásica responde a la comprensión de la distancia entre la filosofía y la ciudad, y del peligro que representa una para la otra: el filósofo debe ser “político”, evitar ofender a la ciudad y buscar proteger a la filosofía. La enseñanza “exotérica”, que es la “armadura” del filósofo, es el aspecto “político” de la filosofía. No obstante, el filósofo comunica también un contenido “esotérico” accesible para quienes saben leer “entre líneas”, alcanzar por su cuenta lo que el autor da a pensar. En la modernidad, sin embargo, los pensadores parecen olvidar o rechazar la escritura esotérica. Maquiavelo, el primer moderno, dice abiertamente cosas que los clásicos ocultaban, expone la “doctrina malvada” que los escritores antiguos pronunciaban solo a “puertas cerradas” (TOM: 10). Pero la relación de Maquiavelo con el arte de escribir es compleja: el autor, parece indicar Strauss, utiliza estas estrategias para minar los cimientos de la enseñanza de la tradición clásica. Pero Maquiavelo busca también traer una enseñanza para su contemporaneidad que transforme el estatuto de la política y la filosofía en Italia. En este trabajo, argumentaremos que la “inmoderación” de Maquiavelo, los ejemplos extremos, los consejos brutales y la detallada descripción de políticas inmoderadas, quizás sean las estrategias de escritura del florentino, según Strauss, para despertar a ciertos jóvenes adormecidos por las ilusiones de la tradición. Quizás la propaganda a favor de la filosofía sea una estrategia para asegurar un lugar para ésta en la ciudad. Finalmente, argumentamos que para Strauss no hay límites para lo que un filósofo puede hacer para proteger a la filosofía con su escritura.
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Leo Strauss on the problem of Socrates in “The Clouds”
Jean Gabriel Castro da Costa (UFSC – Brasil)
The comedy “The Clouds” by Aristophanes is one of the main direct historical sources available on Socrates, alongside the Socratic dialogues of Plato and Xenophon. However, the portrayal of Socrates in “The Clouds” differs substantially from the portrayals of Socrates in the texts of Plato and Xenophon. According to Leo Strauss, these portrayals were responses to Aristophanes and were constructed around the “problem of Socrates,” that is, the problem of the place of rationality in human life and the tense relationship between philosophy and society, issues that appear intertwined with the conflict between philosophy and poetry. According to Strauss, there would be a great underlying agreement between Aristophanes, Plato, and Xenophon regarding Socrates’ astonishing lack of prudence. For them, Socrates would be a purely theoretical and apolitical man who dangerously ignored the power of the alogon in social and political life. Plato and Xenophon would be more prudent than Socrates, more aware of the limits of reason in social and political life, and would have constructed a more prudent and respectable Socrates in the eyes of the city with the aim of saving philosophy from the city’s repression and saving the city from the corrupting effects of philosophy. In this movement, philosophy becomes political philosophy and reconciles in a way with poetry, incorporating the tragic and the comic into a superior ironic unity. Our goal is to explore this hypothesis, focusing on Leo Strauss’s interpretation of the comedy “The Clouds” and his texts dedicated to the “problem of Socrates.”
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Política e Heterogeneidade Noética
José Colen (Universidade do Minho – Portugal)
A interpretação da obra de Strauss tem sido objeto de intenso debate. Um primeiro ponto de controvérsia é se a sua obra contém uma teoria filosófica ou política. Muitos estudiosos, incluindo o próprio autor, sublinham o seu “ceticismo”, um ceticismo que não seria radical, mas “zetético”. Para estes estudiosos, não é possível apresentar nenhuma interpretação do ensinamento de Strauss porque este não tem propriamente uma doutrina ou um conjunto de ensinamentos. O que orienta a apresentação das ideias de diversos filósofos políticos seria fundamentalmente um propósito “pedagógico”. Um segundo ponto de controvérsia é se a sua obra tem sobretudo a natureza histórica ou se existe, por detrás dos estudos históricos, uma visão filosófica ou política própria. Os estudiosos têm certa dificuldade em sumariar o conteúdo do ensinamento de Strauss, que está sempre envolvido numa roupagem histórica. A apresentação de Direito Natural e História como quase um thriller moderno sobre a história do direito natural não deve descartar os paradoxos que permeiam o livro, a menos que abandonemos o próprio padrão de Strauss para “as obras daqueles pensadores que eram escritores extremamente cuidadosos, que eram tão cuidadosos que, por assim dizer, não há uma única palavra nas suas obras que não esteja repleta de significado”. Um terceiro ponto de controvérsia é a natureza da visão de Strauss: os autores dividem-se entre os que sublinham que é uma apologia da filosofia e os que julgam que contém uma certa visão da política.
Qual é a intenção do autor? E que nos diz hoje, que explica a sua crescente popularidade?
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What is Leo Strauss’s Natural Theology?
Marco Menon (Università della Svizzera italiana – Suíça)
In the literature on Leo Strauss’s thought and the theological-political problem, an interpretative current considers this problem to be solvable through argumentation. Some interpreters assert that the theological-political problem, understood as the dichotomy between two forms of life metaphorically symbolized by the cities of Athens and Jerusalem, is not an insoluble dilemma destined to remain unresolved. However, there are divergent views within this current regarding the type of argument believed capable of resolving the theological-political problem. Among these arguments, the so-called argument of natural theology deserves particular emphasis. This argument, based on the analogy of the wise man who serves as a model and criterion for conceiving of God as a most perfect being, was developed by Strauss on rare occasions, for example Reason and Revelation (1948) and The Mutual Influence of Theology and Philosophy (1954). Additionally, the recent publication of extensive commentary on Plato’s Euthyphro provides new insights into this argument.
Drawing from both old and new sources, this contribution aims to explore the question of natural theology more deeply by asking: What is Leo Strauss’s natural theology? Is it a doctrine, an argument, or perhaps both? Strauss, in fact, identifies a philosophical argument within natural theology. Should we therefore differentiate between an exoteric and a philosophical component of Strauss’s natural theology? Moreover, traditional natural theology differs significantly from Strauss’s version, as his approach does not focus on proving the existence of God. Why then calling it natural theology, thereby risking confusion with a concept of the Christian tradition?
The structure of my presentation will be as follows: I will begin by introducing the concept of natural theology and explaining how Leo Strauss employs it in his writings. Following this, I will focus on Strauss’s discussions of the analogy of the wise man, particularly his commentary on Plato’s Euthyphro. I will then delve into the complexities of this topic, specifically examining whether the doctrine of ideas is essential to the analogy. Finally, I will conclude by critically questioning the legitimacy of natural theology, referencing the thought of Protestant theologian Karl Barth as a key point of contrast.
Keywords: Leo Strauss, Natural Theology, Plato, Political Philosophy, Revelation
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Leo Strauss e a Tirania
Newton Bignotto (UFMG – Brasil)
Em nossa apresentação, vamos voltar ao tema principal de um escrito de 1948 – On Tyranny: An Interpretation of Xenophon’s Hiero – para investigar o lugar que a questão da tirania teve na filosofia straussiana e como antecipou, de maneira exemplar, algumas das teses mais conhecidas do autor.
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Política e tecnologia: Strauss e natureza prometeica da modernidade
Richard Romeiro (UFSJ – Brasil)
No âmago da reflexão levada a efeito por Leo Strauss se encontra, como é sabido, a proposta de reabertura da vexata quaestio concernente à “querela entre os antigos e os modernos”, a fim de, mediante esse procedimento, tornar possível uma reconsideração ou reavaliação da alternativa filosófica representada pelo pensamento pré-moderno ou tradicional (clássico e medieval). Ora, como também se sabe, na consecução desse objetivo, Strauss consagrou uma parte importante de sua obra à elaboração de uma leitura consistente e instigante do caráter da filosofia na modernidade, no intuito de apreender os pressupostos e as coordenadas reflexivas mais fundamentais do pensamento filosófico moderno e delimitar, graças a essa démarche histórico-interpretativa, o tipo de projeto político resultante da nova orientação imposta pela modernidade à filosofia. No contexto dessa abordagem, pode-se dizer que um dos insights mais originais de Strauss consistiu em ter compreendido, desde os seus escritos iniciais (e, portanto, anteriormente a Heidegger), o caráter essencialmente tecnológico da racionalidade moderna, apreendendo o fato de que a racionalidade moderna, ao abandonar a orientação fundamentalmente contemplativa da filosofia tradicional e a concepção de natureza como uma ordem supra-humana própria dessa filosofia, converteu a técnica e o poder associado à técnica no núcleo de uma nova concepção da natureza do saber filosófico que, na perspectiva dos autores modernos, ao se efetivar histórica e socialmente por meio do “iluminismo”, deveria revolucionar definitivamente a vida humana, pondo um fim à vigência ancestral do “reino das trevas” e tornando possível o advento de uma nova ordem política que propiciaria a todos os homens prosperidade, bem-estar, paz e liberdade. O escopo de nossa apresentação reside na pretensão de analisar esses elementos da leitura straussiana da modernidade, visando observar como, na óptica de Strauss, o projeto político moderno, que, no limite, envolve a absorção da ciência e da filosofia pelo elemento da tecnologia, é resultado de um processo de imanentização sem precedentes do pensamento humano, imanentização que, segundo Strauss, nada mais é do que o resultado da completa subordinação moderna da filosofia aos interesses e finalidades da sociedade política, tendo em vista a realização do objetivo prometeico de instaurar o domínio do homem sobre a natureza e a história.
COMUNICAÇÕES
Sobre a modernidade: a compreensão crítica de Leo Strauss.
On modernity: Leo Strauss’s critical understanding.
Bruno Irion Coletto (UFRGS – Brasil)
Resumo: No bojo de seu projeto de resgate da filosofia política clássica, Leo Strauss acabou por consagrar-se como um severo crítico da modernidade. Sua problemática de pesquisa parte da constatação de que há uma “crise” na modernidade. Portanto, a compreensão do pensamento de Strauss passa, necessariamente, pela compreensão do fenômeno que ele buscava criticar. A presente pesquisa almeja explorar não apenas o que Strauss efetivamente entendia por modernidade – um fenômeno que, para negar a filosofia política clássica, se apresentava em três diferentes ondas –, mas também pretende explicitar os elementos centrais do fenômeno moderno na leitura feita por Strauss, onde se destacam o positivismo, o historicismo e também o niilismo. Assim, o artigo, por meio da análise da obra de Strauss, em diálogo com o trabalho de comentadores, pretende apresentar um panorama geral da mentalidade filosófica moderna da forma como Strauss a compreendia e descrevia. Contudo, a compreensão da crítica à modernidade, em Strauss, se revelava, paradoxalmente, como uma defesa de um regime moderno: a democracia liberal poderia redimir a modernidade, mas ela devia sua sólida fundamentação ao pensamento político clássico. Era o que Strauss buscava demonstrar, desafiando a ciência política dominante em seu tempo. Portanto, veremos que Strauss, ao propor o retorno aos clássicos, em verdade, articulava a defesa – e não a rejeição – da moderna democracia liberal.
Palavras-Chave: Modernidade. Leo Strauss. Positivismo. Historicismo. Democracia Liberal.
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From Cultural Pessimism to Political Nihilism. On how right-wing political discourse ceases to be conservative and becomes self-destructive. Perspectives from the Carl Schmitt – Leo Strauss debate.
Bruno Ruffer (UFRGS – Brasil)
Abstract: This paper examines the transformation of right-wing political discourse from cultural pessimism to political nihilism through the lens of the Carl Schmitt – Leo Strauss debate. By exploring Carl Schmitt’s “The Concept of the Political,” the essay highlights how Schmitt framed political activity around the distinction between friends and enemies, making polarization its core meaning. Leo Strauss’s critique of Schmitt, based on his 1932 “Notes on The Concept of the Political” and his 1941 lecture “German Nihilism,” is central to this analysis. Strauss argues that Schmitt’s critique of modernity leads to self-destruction by conflating historical inevitability and moral unbearableness in its interpretation of progressivism. Strauss suggests that Schmitt’s conservatism becomes nihilistic as it inverts the Hobbesian axiom that founds and justifies the political community, effectively abandoning the preservation of life and institutions in favor of indiscriminate conflict. Moving past Strauss’s considerations, the discussion extends to the broader implications of cultural pessimism and contemporary examples of political nihilism, addressing current manifestations of this ideological shift within conservatism. The concluding provocation questions the adequacy of the term “polarization” to describe present political challenges. In a context of “polar asymmetry,” where progressives acting within liberal political institutions seem unable to even conserve past achievements, and conservatives become revolutionaries aiming to overturn the established order, the paper argues either for abandoning the term as an adequate description of the current political struggles facing liberal democracies, or for progressives to adopt a more aggressive, “Schmittian approach”, and to confront the political nihilists’ dystopian interpretation of history with a more realistic attitude to it: that is to rescue its own utopian attitude.
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¿Qué tan crítica es la crítica de Strauss a la Modernidad? La alternativa de Heinrich Meier.
Diego Vega (Benemérita Universidad Autónoma de Puebla – México)
La lectura que hizo Leo Strauss de la Modernidad y de algunos filósofos característicos de la ruptura moderna ha sido mayormente entendida como una férrea crítica. A pesar de la multitud de interpretaciones y focos de atención que se han puesto en su obra, los lectores concuerdan generalmente en que Strauss defendía un “retorno” (por ambiguo que sea este) a la filosofía clásica, que consideraba que la ruptura moderna había devenido nihilismo político y obscurecimiento de la filosofía a través del historicismo; que, bajo su examinación, Maquiavelo fue el primero en “olvidarse” de Sócrates, Hobbes el primero en fundamentar una ciencia política dogmática y Rousseau el último en romper toda referencia a la naturaleza al interior de las cosas humanas.
En el marco de tal “acuerdo” o tales asunciones, deseo presentar en esta ponencia un breve esquema de la interpretación en la que el alemán Heinrich Meier ha puesto sus esfuerzos desde hace décadas. Si bien Meier se ha ocupado de la “crítica a la Modernidad” en parcelas, es decir, accediendo a ella a través de comentarios particulares al problema teológico-político, Thoughts on Machiavelli, el significado de la filosofía para Rousseau o Natural Right and History, pretendo mostrar aquí una vista general de lo que podrían ser sus conclusiones respecto a la manera en que Strauss evalúa el pensamiento filosófico moderno. Para introducirlo en una frase, Meier no considera que la filosofía moderna sea en modo alguno una “ofuscación” u obscurecimiento, sino una estrategia filosófico-política para renovar la vida filosófica y asegurar su posibilidad en su enfrentamiento al problema teológico-político.
Después de presentar esquemáticamente algunos de los puntos más relevantes y decisivos que esta lectura representaría para el entendimiento común de la obra de Strauss, quisiera conducir la discusión a un par de cuestionamientos político-filosóficos, a saber: la sospechosa defensa de proyectos políticos (conservadores o no) en nombre de la “vida filosófica” y el sospechoso rol del filósofo como “renovador”.
Palabras clave: Meier, Modernidad, Renovación de la filosofía
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Da História à Natureza: o retorno de Leo Strauss ao pensamento pré-historicista.
Izabella Corrêa M. Coutinho (UFMG – Brasil)
Resumo: Levando em conta o alcance e a profundidade da crítica de Leo Strauss ao fenômeno do historicismo, é possível dizer que a démarche filosófica do autor se consolida como a tentativa de um retorno ao que seria o pensamento não historicista em sua “forma pura”, isto é, o pensamento em cujo núcleo figura uma compreensão original e alternativa acerca do binômio natureza-história. Na visão do filósofo, a compreensão acerca desse par conceitual sofre uma mutação radical ao longo da modernidade, levando-nos ao ponto no qual nos situamos e partir do qual se anuncia o declínio das democracias liberais, já incertas sobre si mesmas. Seguindo o fluxo de um movimento que pode ser denominado “subterrâneo”, a categoria de natureza seria destituída de seu significado mais original e a noção de história seria alçada a um novo patamar, algo que poderíamos capturar ao nos referirmos à metafora das ondas modernas. Como resultado desse deslocamento conceitual ao longo da história do pensamento no Ocidente, a filosofia em sua radicalidade noética tornar-se-ia algo impossível ou absurdo, e a filosofia política algo datado, pois a pergunta acerca do melhor regime ou da melhor vida para homem seria uma pergunta inócua, significativa apenas no contexto histórico da Grécia Antiga. Assim, sugere-se, a empreitada straussiana a nós se apresenta como uma tentativa de restauração da categoria de natureza (physis) e da noção de história (historia) tal como compreendidas pelos pensadores não historicistas. A proposta da minha comunicação consiste em retomar alguns passos importantes de Strauss nesse caminho de volta da história à natureza, destacando, especialmente, dois aspectos principais, os quais, acredito, permitem-nos uma compreensão mínima sobre o significado da sofisticada empresa straussiana: (i) o uso justificado da metodologia genética, histórica e exotérica do autor, algo que deve servir à tarefa de realçar ou, de modo enfático, reencenar as condições de possibilidade da filosofia política e os limites da experiência filosófica; e (ii) a defesa straussiana de uma compreensão não historicista da natureza, cuja adequação deve revelar a própria insuficiência da noção de história no âmbito do conhecimento acerca do homem e das coisas políticas. A partir desse destaque, o objetivo é fazer notar a maneira como Strauss provoca sua audiência, trazendo à tona o elogio da filosofia e a suspeita incômoda sobre a debilidade do conhecimento histórico.
Palavras-chave: Leo Strauss. Historicismo. Natureza. História.
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Entre a Natureza e a Convenção: o problema da organização da cidade na teoria política de Leo Strauss.
Ronaldo Tadeu de Souza (UFSCar – Brasil)
Resumo: A presente comunicação tem como objetivo tratar de um dos temas fundantes da filosofia política de Leo Strauss, a saber: a questão da convenção e da natureza, e de como ela é imprescindível nas reflexões straussianas sobre a organização e as condições de existência da cidade. O argumento bem como a sua construção e exposição estará assentado na interpretação do The City and Man de Leo Strauss, e mais precisamente no capítulo sobre Platão, On Plato’s Repuplic. A hipótese de trabalho é que a cidade não poderia subsistir se fosse construída, exclusivamente, a partir da ordem natural, “de acordo à natureza”, e que essa fosse defendida no pensamento, pelo pensamento, no discurso e pelo discurso dos sábios e dos políticos daquela.
Palavras-Chave: Leo Strauss; City and Man; Convenção; Natureza; Cidade
Title: Between Nature and Convention: the problem of city organization in Leo Strauss’s political theory.
Abstract: The present communication aims to address one of the founding themes of Leo Strauss’s political philosophy, namely: the question of convention and nature, and how it is essential in Strauss’s reflections on the organization and conditions of existence of society. city. The argument as well as its construction and exposition will be based on the interpretation of The City and Man by Leo Strauss, and more precisely on the chapter on Plato, On Plato’s Repuplic. The working hypothesis is that the city could not survive if it were built, exclusively, from the natural order, “in accordance with nature”, and that this was defended in thought, by thought, in speech and by the speech of wise men and women. politicians like that.
Keywords: Leo Strauss; City and Man; Convention; Nature; City
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Leo Strauss conservador?
Theo M. Villaça (PUC/RJ – Brasil)
A proposta do presente trabalho é investigar a frequente categorização de Leo Strauss como um pensador conservador e constatar o equívoco de tal enquadramento. Em um primeiro momento, será exposta a multiplicidade de correntes ditas conservadoras, não se caracterizando uma corrente rígida e internamente coesa. Em um segundo momento, pretende-se deter no conservadorismo americano dos anos 50, no qual George Nash e Ted Macallister incluem Strauss. Nash divide esse movimento em três alas: anti-comunistas (como Burnham), libertários (como Mises e Hayek) e tradicionalistas. O foco dessa parte da apresentação será especificamente a ala “tradicionalista”, na qual, além de Strauss, são colocados autores como Eric Voegelin, Robert Nisbet, Richard Weaver e Russel Kirk. Esse último de maior importância para a questão do presente trabalho, pois referia-se a si mesmo como conservador, ao contrário de Voegelin, por exemplo, que categoricamente rejeitava tal rótulo. Depois de possíveis aproximações entre Strauss e demais conservadores da referida ala tradicionalista, como por exemplo uma crítica ao período da Modernidade – haja visto o uso da obra de Strauss por conservadores –, serão estabelecidas divergências. A crítica à modernidade não é elemento suficiente para a equiparação entre o autor e os conservadores americanos. As divergências serão exploradas sobretudo a partir da crítica que Strauss faz de Edmund Burke, no último capítulo de “Direito Natural e História”, no qual a obra do escritor irlandês é tratada como carregada de elementos de historicismo, doutrina enfaticamente rejeitada pelo filósofo teuto-americano, por desembocar em relativismo e niilismo. O contraste com Burke se justifica devido ao lugar que auto-intitulados conservadores, como Russell Kirk, o colocam, qual seja, como precursor do conservadorismo moderno. Por fim, será estabelecido que, apesar de aproximações, tanto com Burke quanto com conservadores americanos, encaixar o pensamento de Strauss a uma corrente específica acaba por perder de vista a profundidade de sua obra.
Palavras-chave: Conservadorismo; Historicismo; Edmund Burke; Relativismo